Nathália Caldeira

Seja bem-vinde ao Parque dos Ensaios da Gentil. Aperte os cintos e aproveite a paisagem. A cada estação, você encontrará um ensaio, escrito com muito amor, carinho e - esperamos - objetividade, concisão e lógica. Em caso de falha de energia, mantenha a calma! Nossos geradores serão ativados e você será levade para o Centro de Visitantes. Se tiver alguma dúvida, use os rádios presentes em cada veículo para se comunicar com nosses funcionáries. Boa viagem.

Welcome to Gentle's Essay Park. Fasten your seatbelt and enjoy the view. On each station, you will find an essay written with much love, care, and - hopefully - directness, objectivity and logic. In case of electric failure, keep calm! Our generators will be activated and you will be taken to the Visitors' Centre. If you have any doubts, use the radios in each vehicle to communicate with our employees. Have a nice trip.

Estação 001 - 19/02

A classificação dos organismos proposta em 1969 por Robert Whittaker é considerada equivocada pela biologia contemporânea. Essa proposta agrega todos os seres viventes conhecidos na época em cinco reinos: Monera (bactérias e arqueobactérias), Protista (protozoários e algas), Plantae (plantas terrestres e algas verdes), Fungi (fungos) e Animalia (animais). Esses agrupamentos foram baseados em níveis de organização distintos – ou seja, “degraus” numa linha do tempo – e modos de alimentação. Apesar de oferecer um panorama de fácil compreensão e ser a proposta dominante de classificação dos seres vivos desde sua apresentação, a árvore dos cinco reinos introduz conceitos equivocados. Alguns desses conceitos são: a noção de que a evolução proporciona a existência de organismos mais ou menos evoluídos; e que os organismos “menos evoluídos” não evoluem mais. Biólogos – e qualquer pessoa que se preste a estudar evolução – entendem que ela ocorre simultaneamente em diversos grupos de seres vivos, sejam eles “ancestrais” ou não. Além disso, não existem seres mais ou menos evoluídos, e sim, mais ou menos adaptados a determinado ambiente, ou seja, o grau de adaptação dos seres mudará dependendo do critério utilizado. Além de oferecer conceitos equivocados, a proposta dos cinco reinos ainda ignora as relações de parentesco entre os seres vivos, uma vez que não considera a monofilia – ou seja, não leva em conta se os organismos de um mesmo grupo tiveram ou não a mesma origem – para agrupar os filos. Por fim, a árvore dos cinco reinos não leva em consideração a grande diversidade de micro-organismos. Pode-se ver claramente no desenho de Whittaker que os terminais mais numerosos e mais evidentes são os de plantas, animais e fungos, o que não corresponde à real diversidade do planeta, formada majoritariamente por bactérias e arqueobactérias. A fim de atualizar a classificação dos seres vivos, foram apresentadas outras propostas, baseadas em sequências de DNA e proteínas. Essas propostas consideram a monofilia e os conceitos corretos de evolução, mas ainda carecem de reconhecimento, tanto dentro quanto fora da comunidade científica.

Modificado por Gabriela Hsia

A classificação dos organismos proposta em 1969 por Robert Whittaker é considerada equivocada pela biologia contemporânea. Essa proposta agrega todos os seres viventes conhecidos na época em cinco reinos: Monera (bactérias e arqueobactérias), Protista (protozoários e algas), Plantae (plantas terrestres e algas verdes), Fungi (fungos) e Animalia (animais). Esses agrupamentos foram baseados em níveis de organização distintos – ou seja, “degraus” numa linha do tempo – e modos de alimentação. Apesar de oferecer um panorama de fácil compreensão e ser a proposta dominante de classificação dos seres vivos desde sua apresentação, (Na minha opinião, esse trecho ficou longo. Acho que poderia ser encurtado para: “ e de ser a proposta prevalecente desde sua apresentação”) a árvore dos cinco reinos introduz conceitos equivocados. Alguns desses conceitos são: a noção de que a evolução proporciona a existência de organismos mais ou menos evoluídos; e que os organismos “menos evoluídos” não evoluem mais. Biólogos – e qualquer pessoa que se preste a estudar evolução – entendem que ela ocorre simultaneamente em diversos grupos de seres vivos, sejam eles “ancestrais” ou não. Além disso, não existem seres mais ou menos evoluídos, e sim, mais ou menos adaptados a determinado ambiente, ou seja, o grau de adaptação dos seres mudará dependendo do critério utilizado. Além de oferecer conceitos equivocados, a proposta dos cinco reinos ainda ignora as relações de parentesco entre os seres vivos, (Na minha opinião, a ideia transmitida no trecho marcado já foi expressa ao longo do texto, talvez ela poderia ser retirada. “Além de oferecer conceitos equivocados, a proposta dos cinco reinos não considera a monifilia…”) uma vez que não considera a monofilia – ou seja, não leva em conta se os organismos de um mesmo grupo tiveram ou não a mesma origem – para agrupar os filos. Por fim, a árvore dos cinco reinos não leva em consideração a grande diversidade de micro-organismos. Pode-se ver claramente no desenho de Whittaker que os terminais mais numerosos e mais evidentes são os de plantas, animais e fungos, o que não corresponde à real diversidade do planeta, formada majoritariamente por bactérias e arqueobactérias. A fim de atualizar a classificação dos seres vivos, foram apresentadas outras propostas, baseadas em sequências de DNA e proteínas. Essas propostas consideram a monofilia e os conceitos corretos de evolução, mas ainda carecem de reconhecimento, tanto dentro quanto fora da comunidade científica.

Comentários gerais: Na minha opinião, o parágrafo está muito bem escrito e todos os temas e assuntos abordados são pertinentes.

Estação 002 - 04/03

Long branch attraction é um grande problema para sistematas. Ele ocorre quando, durante a construção da árvore filogenética, um grupo é separado de outro por muitas mudanças de estado de caráter, sem que haja evidências de cladogênese. Os métodos de reconstrução histórica entendem essas mudanças de caráter como equivalentes e colocam os ramos longos no mesmo grupo. Isso, no entanto, nem sempre corresponde à realidade. Um exemplo são os microsporídios, organismos que simplificaram muito seu rRNA, isto é, apresentam grandes variações desse estado de caráter em relação ao grupos mais próximos a eles (os fungos). Devido a essas variações, reconstruções mais antigas colocaram os microsporídios próximos dos protozoários. O problema de long-branch attraction pode ser causado por uma amostragem de dados deficiente ou por eventos de extinção, que impossibilitam o acesso aos dados sobre a história daquele grupo. Dessa forma, muitas vezes, árvores com long-branch attraction são suportadas por bootstrap, já que esse método calcula se a mesma árvore seria obtida com uma amostragem melhor de dados. Como o problema de long-branch attraction gera relações falsas entre terminais e não pode ser eliminado com o uso de bootstrap, o senso crítico é a única forma de blindar os sistematas contra ele.

Modificado por Juliana de Lemos

Long - branch attraction colocar termos em línguas distintas da utilizada no texto em itálico é um grande problema para sistematas. Ele ocorre quando, durante a construção da árvore filogenética, um grupo é separado de outro por muitas mudanças de estado de caráter, sem que haja evidências de cladogênese. sugestão: talvez fosse interessante uma frase pequena aqui explicando o que é uma cladogênese Os métodos de reconstrução histórica entendem essas mudanças de caráter como equivalentes e colocam os ramos longos no mesmo grupo. Isso, no entanto, nem sempre corresponde à realidade. Um exemplo são os microsporídios, organismos que simplificaram muito seu rRNA, isto é, apresentam grandes variações desse estado de caráter em relação ao grupos mais próximos a eles (os fungos) a colocação após "isto é" ficou um pouco confusa, "grandes variações" mostra que o estado de caráter é bastante diferente, mas não passa a ideia de simplicidade colocada anteriormente. Devido a essas variações, reconstruções mais antigas colocaram os microsporídios próximos dos protozoários. O problema de long-branch attraction pode ser causado por uma amostragem de dados deficiente ou por eventos de extinção, que impossibilitam o acesso aos dados sugestão: evitar a repetição da palavra "dados" colocando no lugar "informações" sobre a história daquele grupo. Dessa forma, muitas vezes, árvores com long-branch attraction são suportadas por bootstrap, já que esse método calcula se a mesma árvore seria obtida com uma amostragem melhor de dados. Como o problema de long-branch attraction gera relações falsas entre terminais e não pode ser eliminado com o uso de bootstrap, o senso crítico é a única forma de blindar os sistematas contra ele.

Comentários gerais: Oração título curta e informativa. Ensaio conciso e direto com relação ao tema abordado. Como não participei da discussão do tema feita em aula, seu parágrafo se destacou porque deixou as informações claras para um leitor nessa situação. Coloquei algumas sugestões, mas as sentenças não se alongaram demais e mantém o leitor interessado até o final.

Estação 003 - 11/03

A multicelularidade agregativa é um padrão comportamental que se repete ao longo de toda a história dos seres vivos. Está presente em vários supergrupos de organismos, como Excavata, Rhizaria e Opisthokonta, sugerindo múltiplas origens. Geralmente, os seres vivos se agregam como forma de resposta a escassez de recursos ou em época de reprodução. As estratégias para reagir a esses estímulos são diferentes, logo, a formação da estrutura multicelular também é. Em Dyctiostelia, por exemplo, a multicelularidade agregativa é disparada pela falta alimentos, estímulo comunicado de uma célula à outra através de pulsos de cAMP. Uma vez agregadas, as células formam uma lesma de vida livre, e, posteriormente, um corpo de frutificação[1]. Por outro lado, Capsaspora owczarzaki, um opistoconte, regula sua agregação através de proteínas[2]. Dessa forma, a multicelularidade agregativa ocorre de diversas formas na natureza, tendo múltiplas origens históricas e estando intimamente ligada a um apurado sistema de comunicação celular.

Referências
1. Q. Du, et al., The Evolution of Aggregative Multicellularity and Cell–Cell Communication in the Dictyostelia, J. Mol. Biol. (2015), http://dx.doi.org/10.1016/j.jmb.2015.08.008.
2. Sebé-Pedrós, et al., Regulated aggregative multicellularity in a close unicellular relative of metazoa, eLife 2013;2:e01287, DOI 10.7554/eLife.01287.

Modificado por Julia Peloggia

A multicelularidade agregativa é um padrão comportamental que se repete ao longo de toda a história dos seres vivos. Está presente em vários supergrupos de organismos, como Excavata, Rhizaria e Opisthokonta, sugerindo múltiplas origens. Geralmente, os seres vivos se agregam como forma de resposta a escassez de recursos ou em época de reprodução. As estratégias para reagir a esses estímulos são diferentes, logo, a formação da estrutura multicelular também é. Em Dyctiostelia, por exemplo, a multicelularidade agregativa é disparada pela falta alimentos, estímulo comunicado de uma célula à outra através de pulsos de cAMP. Uma vez agregadas, as células formam uma lesma de vida livre, e, posteriormente, um corpo de frutificação[1]. Por outro lado, Capsaspora owczarzaki Eu teria colocado em ítalico, um opistoconte, regula sua agregação através de proteínas[2]. Dessa forma, a multicelularidade agregativa ocorre de diversas formas na natureza, tendo múltiplas origens históricas e estando intimamente ligada a um apurado sistema de comunicação celular.

Comentários gerais: A oração título está informativa e curta. A proporção de verbos e pontos finais está bem adequada. Dependendo do público alvo do texto, acho que algumas coisas ficaram sem explicação (ex: pulsos de cAMP). O texto está bom, bem escrito e mantém a atenção do leitor.

Estação 004 - 18/03

As hipóteses chupa-cabra são empecilhos para a consolidação da monifilia dos grandes grupos de eucariotos. Essas hipóteses surgem quando um grupo é criado e os estudos complementares sobre ele procuram apenas por caracteres que o sustentem. Essa atitude é contrária à forma mais aceita de se fazer ciência, a qual consiste em procurar evidências que refutem a hipótese formulada. Ao buscar apenas pela sustentação da monofilia do grupo estudado, ignora-se as evidências contrárias à existência desse grupo. Isso culmina na formação de um círculo vicioso no meio científico: os pesquisadores procuram por evidências que sustentem determinado grupo e as encontram, mas ignoram indícios contrários à monofilia desse grupo, o que leva mais pesquisadores a acreditarem na existência do grupo, e assim por diante. Assim como aconteceu com o modelo de classificação biológica de Whittaker, que foi consenso na comunidade científica por quase 30 anos, a resolução de hipóteses chupa-cabra pode demorar muito tempo e impedir a formulação de novas hipóteses. Dessa forma, hipóteses chupa-cabra são um risco que todo pesquisador corre ao tentar sustentar um grupo de seres vivos, mas que pode ser evitado ao procurar refutar a hipótese testada, e não apenas confirmá-la.

Estação 005 - modificação da prova de 01/04

Com todos esses problemas e boas alternativas, por que a comunidade leiga aceita a classificação em cinco reinos? Em primeiro lugar, esse sistema reduz a biodiversidade do planeta a reinos com características fixas. Com isso, o aluno pensará nas categorias antes mesmo dos seres vivos que as compõem. Dessa forma, ele pode categorizar e “entender” toda a diversidade de seres vivos. Outro motivo para a aceitação dos cinco reinos é a dificuldade para ensinar evolução nas escolas. Ela parte de um movimento reacionário a favor da proibição do ensino de evolução¹, da falta de tempo para abordá-la¹ e da falta de conhecimento dos professores do ensino básico sobre o assunto². Dessa forma, o aprendizado da evolução fica permeado de senso comum, especialmente a ideia de que ocorre de forma a “aperfeiçoar” os organismos¹. Como a classificação em cinco reinos incorpora essa ideia, ela se torna mais fácil de aprender. A evolução em patamares também coloca o homem como ser mais evoluído, suprindo a necessidade de superioridade de todos nós. Por fim, o destaque que Whitaker deu aos seres macroscópicos faz com que o aprendizado da classificação em cinco reinos seja confortável, afinal, podemos ver quase todos os seres vivos abordados nesse sistema.

1. CARNEIRO APN. A evolução biológica aos olhos de professores não-licenciados. 137pp. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/87246/210787.pdf?sequence=1>. Acessado em: 08/04/2016.
2. OLEQUES LC et. al. Evolução biológica como eixo integrador no ensino de biologia: concepções e práticas de professores do Ensino Médio. Disponível em: <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1066-1.pdf>. Acessado em: 08/04/2016.

Modificado por Ana Sophia

Com todos esses problemas e boas alternativas, por que a comunidade leiga aceita a classificação em cinco reinos? Em primeiro lugar, esse sistema reduz a biodiversidade do planeta a reinos com características fixas. Com isso, o aluno pensará nas categorias antes mesmo dos seres vivos que as compõem. Dessa forma, ele pode categorizar e “entender” toda a diversidade de seres vivos Senti falta de um exemplo pra explicar o que você quis dizer com isso. Ficou um tanto abstrato. Outro motivo para a aceitação dos cinco reinos é a dificuldade para ensinar evolução nas escolas. Ela parte de um movimento reacionário a favor da proibição do ensino de evolução¹, da falta de tempo para abordá-la¹ e da falta de conhecimento dos professores do ensino básico sobre o assunto². Dessa forma, o aprendizado da evolução fica permeado de senso comum, especialmente a ideia de que ocorre de forma a “aperfeiçoar” os organismos¹. Como a classificação em cinco reinos incorpora essa ideia, ela se torna mais fácil de aprender. A evolução em patamares também coloca o homem como ser mais evoluído, suprindo a necessidade de superioridade de todos nós. Por fim, o destaque que Whitaker deu aos seres macroscópicos faz com que o aprendizado da classificação em cinco reinos seja confortável, afinal, podemos ver quase todos os seres vivos abordados nesse sistema.

Seu texto está bastante claro e estruturado com as referências. Fiquei com dificuldade de avaliar o início do parágrafo pois ele faz referência a um trecho anterior do texto que não está presente aqui. Minha sugestão seria a de iniciar parágrafos com a introdução de assuntos, evitando que fiquem descontextualizados quando retirados no texto completo.

Estação 006 - 15/04

A endossimbiose é uma teoria que explica o surgimento de organelas como mitocôndria e cloroplasto. A proposta original foi feita em 1966 por Lynn Margulis[1] e incluía a fagocitose de um ser aeróbio por um outro ser, que deveria ser anaeróbio e heterotrófico. Segundo a proposta original de Margulis, o ser fagocitado – ou endossimbionte – levaria toda a sua maquinaria para a célula hospedeira, incluindo DNA, mRNA e ribossomos. Com o tempo, a aparelhagem celular redundante do endossimbionte seria eliminada, restando apenas o que fosse necessário para que ele se perpetuasse na linhagem hospedeira. Por exemplo, endossimbiontes que se dividem simultaneamente à divisão da célula hospedeira precisariam preservar seus centríolos. Como todas as organelas originadas por endossimbiose fazem processos metabólicos, espera-se que todas elas tenham conservado seu DNA. Dessa forma, seria possível encontrar o DNA do endossimbionte nas organelas que se originaram por esse método. O DNA dos cloroplastos já era conhecido desde 1962[2], e o mtDNA foi encontrado em 1974[3], corroborando a proposta de Margulis. Assim, a endossimbiose se prova como uma teoria eficiente para explicar o surgimento das organelas membranosas em eucariotos.

1. SAGAN, L. On the origin of mitosing cells. J. Theoret. Biol. (1967) 14, 225-274. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0022519367900793>. Acessado em: 15/04/2016.
2. RIS H, PLAUT W. Ultrastructure of DNA-containing areas in the chloroplast of Chlamydomonas. J Cell Biol. 1962 Jun;13:383-91. Disponível em: <http://jcb.rupress.org/content/13/3/383.long>. Acessado em: 15/04/2016.
3. HUTCHINSON CA, et. al. Maternal inheritance of mammalian mitochondrial DNA. Nature 251, 536 - 538 (11 October 1974). Disponível em: <http://www.nature.com/nature/journal/v251/n5475/abs/251536a0.html>. Acessado em: 15/04/2016.

Modificado por Fernanda Thomaz

A endossimbiose é uma teoria que explica o surgimento de organelas como mitocôndria e cloroplasto (A frase título está adequada e expressa bem o tema tratado ao longo do ensaio). A proposta original foi feita em 1966 por Lynn Margulis[1] e incluía a fagocitose de um ser aeróbio por um outro ser, que deveria ser anaeróbio e heterotrófico. Segundo a proposta original de Margulis, o ser fagocitado – ou endossimbionte – levaria toda a sua maquinaria para a célula hospedeira, incluindo DNA, mRNA e ribossomos. Com o tempo, a aparelhagem celular redundante do endossimbionte seria eliminada, restando apenas o que fosse necessário para que ele se perpetuasse na linhagem hospedeira. Por exemplo, endossimbiontes que se dividem simultaneamente à divisão da célula hospedeira precisariam preservar seus centríolos. Como todas as organelas originadas por endossimbiose fazem processos metabólicos, espera-se que todas elas tenham conservado seu DNA. Dessa forma, seria possível encontrar o DNA do endossimbionte nas organelas que se originaram por esse método. O DNA dos cloroplastos já era conhecido desde 1962[2], e o mtDNA foi encontrado em 1974[3], corroborando a proposta de Margulis. Assim, a endossimbiose se prova como uma teoria eficiente para explicar o surgimento das organelas membranosas em eucariotos.

Comentários: Seu texto está claro e objetivo. O público alvo dos Ensaios sabe a definição desses conceitos - aeróbio, anaeróbio, heterotrófico, fagocitose, DNA, etc; mas caso você queira divulgar seu ensaio para outro tipo de público, seria interessante colocar as definições. Seu modo de colocar as referências é bem interessante. Em alguns momentos do texto há frases com mais de um verbo, porém não consegui pensar em outra forma mais adequada de escrever, então não fiz sugestões.

Estação 007 - 29/04

A quantidade de fósseis é muito diferente para eucariotos micro e macroscópicos. Enquanto os dois sofrem com a incompletude do registro fóssil¹, a maior parte dos eucariotos microscópicos não produz estruturas mineralizadas, o que dificulta a preservação desses organismos em fósseis2. Organismos macroscópicos, por outro lado, são mais facilmente preservados porque podem deixar impressões por onde passam3 e porque a maioria deles produz estruturas mineralizadas. Os vertebrados, por exemplo, contam com os ossos, que podem ser permineralizados e preservados em três dimensões por milhões de anos4,5. Dessa forma, mesmo com sua grande abundância, os eucariotos microscópicos acabam sendo menos encontrados no registro fóssil, sendo que esse registro se restringe quase que completamente aos que possuíam carapaças mineralizadas. Outro problema que restringe a amostragem de fósseis é o interesse da comunidade científica em determinada linhagem4. Esse problema atinge diretamente os eucariotos microscópicos, nos quais a comunidade científica possui interesse reduzido. Por todos esses motivos, a qualidade do registro fóssil para eucariotos microscópicos é muito baixa.

1. Wang SC, Marshall CR. 2016. Estimating times of extinction in the fossil record. Biol. Lett. 12:20150989. http://dx.doi.org/10.1098/rsbl.2015.0989. Acessado em: 29/04/2016.
2. Leung TLF. Fossils of parasites: what can the fossil record tell us about the evolution of parasitism? Biol. Rev. (2015). doi: 10.1111/brv.12238. Acessado em: 29/04/2016.
3. Silva VRB. Os conchostráceos fósseis da Bacia de Camamu (Jurássico Superior - Cretáceo Inferior). Dissertação de mestrado. ISSN 0101-9759. 2005. Acessado em: 29/04/2016.
4. Starrfelt J, Liow LH. 2016. How many dinosaur species are there? Fossil bias and true richness estimated using a Poisson sampling model. Phil. Trans. R. Soc. B. 371:20150219. http://dx.doi.org/10.1089/rstb.2015.0219. Acessado em: 29/04/2016.
5. Peterson JE, Lenczewski ME, Scherer RP (2010) Influence of Microbial Biofilms on the Preservation of Primary Soft Tissue in Fossil and Extant Archosaurs. PLoS ONE 5(10): e13334. doi:10.1371/journal.pone.0013334. Acessado em: 29/04/2016.

Comentários Rodolfo Pereira Graciotti

A quantidade de fósseis é muito diferente para eucariotos micro e macroscópicos. Enquanto os dois sofrem com a incompletude do registro fóssil¹, a maior parte dos eucariotos microscópicos não produz estruturas mineralizadas, o que dificulta a preservação desses organismos em fósseis2. Organismos macroscópicos, por outro lado, são mais facilmente preservados porque podem deixar impressões por onde passam3 e porque a maioria deles produz estruturas mineralizadas. (embora conceitualmente correto, não sempre é verdade. fungos e plantas não possuem estruturas mineralizadas, mas preservam no registro fóssil de outras formas. na próxima frase você usa o exemplo dos vertebrados) Os vertebrados, por exemplo, contam com os ossos, que podem ser permineralizados e preservados em três dimensões por milhões de anos4,5. Dessa forma, mesmo com sua grande abundância, os eucariotos microscópicos acabam sendo menos encontrados no registro fóssil, sendo que esse registro se restringe quase que completamente aos que possuíam carapaças mineralizadas. Outro problema que restringe a amostragem de fósseis é o interesse da comunidade científica em determinada linhagem4. Esse problema atinge diretamente os eucariotos microscópicos, nos quais a comunidade científica possui interesse reduzido. Por todos esses motivos, a qualidade do registro fóssil para eucariotos microscópicos é muito baixa.

Comentário geral: Achei muito bom! Sem problemas de escrita, e com uma argumentação bem embasada. Gostei das referências e da forma como você as utilizou. (mas o link da 4 não funcionou :/) #gentilrainhadetodososdinossauros

Estação 008 - 06/05

Pedimos desculpas. Tivemos problemas em nosso sistema e a estação 008 está indisponível. Você será automaticamente levado à estação 009. O Parque de Ensaios da Gentil deseja a você uma boa viagem.

We are sorry. There were problems in our system and the station #008 is unavailable. You will be automatically taken to station #009. Gentle's Essay Park wishes you a nice trip.

Estação 009 - 13/05

Tema para o ensaio: fósseis moleculares em Eukarya.
Esse tema é intrigante porque eucariotos e procariotos são organismos muito semelhantes do ponto de vista molecular, uma vez que suas células são basicamente compostas pelas mesmas substâncias: lipídios, proteínas, ácidos nucleicos, etc. As poucas moléculas que se diferenciam entre os dois grupos podem ser usadas como marcadores da história evolutiva desses grupos. Desse modo, conhecer essas moléculas permite entender a filogenia dos seres vivos.

Estação 010 - 20/05

A construção da estação 010 foi comprometida pelas chuvas e foi completada apenas no dia 03/06. Pedimos desculpas pelo transtorno.
The building of station 010 has been compromised by rain and was completed a week later. We are sorry for the inconvenience.

Temas a serem tratados no ensaio:
A - O que são fósseis moleculares: esqueletos carbônicos de moléculas (geralmente lipídios) específicas a determinados grupos de organismos (geralmente micro-organismos). Dão uma boa ideia do paleoambiente em que esses organismos viviam e são ótimas para datação relativa. [1] Exemplo: hopanoides são indicadores da presença de bactérias no sedimento. [2] Graças aos fósseis moleculares, sabemos que bactérias viveram no Arqueano. [3]
B - Lipídios: dinoesteroides e dinoesteranos são os principais biomarcadores de dinoflagelados. Algumas dessas moléculas também são bons marcadores para diatomáceas. Os principais fósseis moleculares de dinoflagelados são os norcolestanos, cuja oscilação marca as grandes radiações de dinoflagelados (no Jurássico e no Mioceno). Derivam da membrana plasmática e são geralmente específicos dentro dos grupos (taxon-specific biomarkers, TSB). [4,5] Esteranos de 30 carbonos são relacionados a algas filamentosas e também podem estar presentes em coprólitos de zooplâncton. [6] Alguns lipídios encontrados no limite entre o Criogeniano e o Ediacarano (635 Mya) apontam para a presença de Demospongiae nessa época. [7]
C - Vantagens dos fósseis moleculares: preservados onde fósseis podem não existir; representam organismos que não estão bem representados no registro fóssil (ver ensaio sobre vertebrados vs. micro-organismos para referências); transcendem a morfologia, deixando a evolução mais evidente. [5]
D - Consequências: deslocar o limite de ocorrência de um determinado organismo (ex: bactérias). [3] Enraizar a árvore filogenética dos eucariotos. [8] Enraizar a árvore filogenética de todos os seres vivos, permitindo uma descrição mais acurada do LUCA. [9]
E - Processos: o RNA e o processo de tradução de proteínas é considerado, por alguns autores, um fóssil molecular da época do mundo de RNA. Nessa visão, os eucariotos teriam toda a maquinaria possível de ser herdada do mundo de RNA (mRNA, tRNA e rRNA) e os procariotos teriam apenas uma parte dessa maquinaria. [9] A substituição de códons no tRNA também serve como biomarcador de determinados momentos geológicos. [10] A permuta de genes de tRNA no genoma de eucariotos também é um fóssil molecular. [8]

Estação 011 - 03/06

Ordem dos parágrafos:
1 - [INTRODUÇÃO] O que é fóssil molecular
2 - [INTRODUÇÃO] Vantagens da utilização de fósseis moleculares
3 - [DESENVOLVIMENTO] Lipídios
4 - [DESENVOLVIMENTO] Processos
5 - [DESENVOLVIMENTO] Consequências práticas da utilização de fósseis moleculares
6 - [CONCLUSÃO]

Estação 012 - 10/06

Parágrafos em frases:
1 - Fósseis moleculares são esqueletos carbônicos de moléculas sintetizadas por eucariotos já extintos. [1] Esses esqueletos carbônicos são capazes de indicar qual ou quais organismos viveram naquele local, uma vez que são específicos para determinados grupos. Dessa forma, podemos ter uma noção um pouco mais acurada de como era o ecossistema em que esses organismos viveram. [2, 3] Sem os fósseis moleculares, essa noção não poderia ser alcançada, uma vez que as rochas, por si só, não nos informam sobre quais organismos viveram ali e sob que condições eles ocorreram. A presença de bactérias em rochas do Arqueano, por exemplo, só pôde ser confirmada devido à presença de uma classe de fósseis moleculares conhecida como hopanoides. [2] Um hopanoide conhecido como 2-alfa-metilhopano, que só poderia ser sintetizado em presença de oxigênio, foi encontrado em rochas de mais de 2 bilhões de anos. Esse achado, combinado a outras evidências fósseis, como os estromatólitos, foi crucial para reforçar a existência de bactérias metanotróficas durante o Arqueano. [3] Os fósseis moleculares podem ser lipídicos, apontando para a existência de determinados táxons que produziam aquelas moléculas, e também podem ter outras naturezas. Fósseis moleculares não-lipídicos costumam dar evidências da existência de processos, como translocação de genes, e não de linhagens. [8]

2 - O uso de fósseis moleculares é vantajoso por diversos motivos. Em primeiro lugar, uma porcentagem pequena dos organismos vivos em determinada época serão fossilizados. Isso é especialmente verdadeiro para organismos unicelulares que não possuem estruturas calcificadas[11], e ainda mais verdadeiro para protistas, pelos quais o interesse comercial e científico é limitado [12]. Além disso, a fossilização é um processo que demanda condições específicas. Isso acarreta uma grande quantidade de organismos mortos fora dessas condições que não serão representados no registro fóssil. [5] Outra contribuição dos fósseis moleculares é dar um melhor panorama das relações entre linhagens. Os fósseis moleculares são alternativas à interpretação morfológica do registro fóssil. Sendo assim, revelam relações entre linhagens morfologicamente distantes, as quais não teriam sido percebidas sem o auxílio das moléculas. [5] Tendo isso em mente, concluímos que os fósseis moleculares complementam o registro fóssil tradicional. Essa complementação pode fornecer dados que apenas os fósseis morfológicos não ofereceriam. Um exemplo é a ocorrência de eventos ecológicos e evolutivos. [5] A presença dos hopanoides acima citados, por exemplo, indica que a atmosfera do Arqueano já estava repleta de oxigênio. Assim, essas moléculas podem registrar, em forma de fósseis, o início da utilização de oxigênio como aceptor de elétrons para a respiração. [3]

3 - Como já dito, os fósseis moleculares podem ser lipídicos ou não. Os principais fósseis de natureza lipídica são dinoesteroides e dinoesteranos. [4] Essas moléculas são derivadas da membrana plasmática de dinoflagelados e diatomáceas e são específicos para esses grupos. Por isso, são conhecidos como biomarcadores táxon-específicos (taxon-specific biomarkers, ou TSB). [5] Dentre os dinoesteranos, destacam-se os norcolestanos, que são específicos de dinoflagelados. Essas moléculas foram importantes para a determinação das duas maiores radiações de dinoflagelados já documentadas, que ocorreram no Jurássico e no Mioceno. [4] Além de diatomáceas e dinoflagelados, outros grupos de eucariotos também possuem TSBs. Um exemplo são as algas filamentosas. Achados de esteranos de 30 carbonos estão comumente relacionados a esse tipo de organismo. Essas moléculas também podem ser encontradas em coprólitos de zooplâncton, indicando predação daquele grupo por este. [6] Organismos menos basais na filogenia de Eukarya também podem ser localizados através de fósseis moleculares. É o caso de Demospongiae, um grupo pertencente ao filo Porifera. Certos esqueletos de lipídios encontrados em rochas de 635 milhões de anos (no limite entre o Criogeniano e o Ediacarano) apontam para a existência desses animais nessa época. [7]

4 - Por outro lado, fósseis moleculares de natureza não-lipídica comumente apontam para a existência de processos, e não de linhagens. Isso acontece com o RNA. Essa molécula é considerada por muitos um fóssil molecular que nos leva de volta à época do mundo de RNA. Segundo essa visão, o fóssil mais antigo que pode existir está relacionado à tradução de proteínas, que é um processo essencial para a existência de vida. A molécula que faz a integração de todo o processo de tradução e o possibilita é o RNA. Assim, organismos que possuem rRNA, tRNA e mRNA (eucariotos) possuem a maquinaria completa de tradução, ou seja, um registro fóssil completo do mundo de RNA. Organismos que não possuem a maquinaria completa (bactérias e Archaea) não carregam esse registro fóssil por completo. Essa visão, contudo, ainda é bastante controversa e necessita de maiores estudos. [9] Ainda em relação ao RNA, alguns autores defendem que a substituição da glicina pela glutamina no tRNA de bactérias e Archaea é um fóssil molecular. Essa substituição teria acontecido como forma de adaptação à termofilia, uma vez que a glicina não é resistente a altas temperaturas, ao contrário da glutamina. Assim, a presença do tRNA com glutamina é um biomarcador da evolução da termofilia em bactérias e Archaea. [10]

5 - O uso de fósseis moleculares possibilitou diversas conquistas científicas. A ocorrência de hopanoides em rochas do Arqueano da Austrália fortaleceu a teoria de que as cianobactérias já existiriam nessa época. Nessa mesma teoria, o oxigênio produzido por essas bactérias teria formado as rochas férricas da formação Hamersley, de 2500 Ma. Assim, os TSBs podem ser utilizados para deslocar o limite temporal de ocorrência de uma linhagem. [3] Essas moléculas também permitem que se construa árvores filogenéticas de organismos extintos que não sejam totalmente baseadas na morfologia, como foi o caso das bactérias metanotróficas da formação Hamersley. [3] Reconstruções históricas puramente morfológicas podem ocultar relações entre táxons. O uso de biomarcadores fósseis pode minimizar ou até eliminar a possibilidade desse erro. [5] Outra aplicação prática dos fósseis moleculares é o enraizamento de árvores filogenéticas. Ao estudar genes permutados que codificam para tRNA, pesquisadores italianos teorizaram que essa permuta é ancestral em relação aos genes não permutados, e que a raiz de Eukarya se encontraria próxima de Viridiplantae. [8] De forma mais ampla, o estudo de fósseis moleculares, como RNA e proteínas termorredutoras, resultou em um novo panorama para o LUCA. Nesse panorama, o LUCA seria um organismo mesofílico, mais parecido com eucariotos do que com procariotos. [9]

6 - Fósseis moleculares são úteis para a ciência em diversos contextos. Por serem táxon-específicos, nos informam sobre a ocorrência temporal e espacial de linhagens extintas de eucariotos. Dessa forma, esses biomarcadores podem ser utilizados para enraizar árvores filogenéticas. Outra utilização dessas moléculas é o melhoramento da imagem que temos sobre o LUCA. Graças ao estudo de fósseis moleculares, concebemos o LUCA como um organismo com um metabolismo celular tão complexo quanto o de eucariotos. Nesse contexto, a presença dos diferentes tipos de RNA também seria um fóssil, bem como o processo de tradução de proteínas. Outras moléculas, como proteínas termorredutoras, também podem ser consideradas fósseis moleculares. Os biomarcadores fósseis de maior relevância para datação e determinação da ocorrência de táxons, contudo, são os lipídicos. Esses esqueletos de lipídios são capazes de contar histórias sobre diversos táxons, desde dinoflagelados até esponjas. Graças a eles, sabemos que as bactérias do Arqueano já respiravam oxigênio e que os dinoflagelados sofreram duas grandes radiações relativamente recentes na história da Terra. Fósseis moleculares também são capazes de nos fornecer dados sobre a relação entre táxons. Muitas vezes, esses dados são mais acurados que aqueles presentes no registro fóssil, já que não estão obscurecidos pela morfologia. Dadas essas aplicações, a importância dos fósseis moleculares para as reconstruções históricas de eucariotos não pode ser negada.

Estação 013 - 17/06

Prévia do ensaio de 24/06
CP = contagem de palavras

Fósseis moleculares são esqueletos carbônicos de moléculas sintetizadas por eucariotos já extintos. [1] Esses esqueletos carbônicos são capazes de indicar qual ou quais organismos viveram naquele local, uma vez que são específicos para determinados grupos. Dessa forma, podemos ter uma noção um pouco mais acurada de como era o ecossistema em que esses organismos viveram. [2, 3] Sem os fósseis moleculares, essa noção não poderia ser alcançada, uma vez que as rochas, por si só, não nos informam sobre quais organismos viveram ali e sob que condições eles ocorreram. A presença de bactérias em rochas do Arqueano, por exemplo, só pôde ser confirmada devido à presença de uma classe de fósseis moleculares conhecida como hopanoides. [2] Um hopanoide conhecido como 2-alfa-metilhopano, que só poderia ser sintetizado em presença de oxigênio, foi encontrado em rochas de mais de 2 bilhões de anos. Esse achado, combinado a outras evidências fósseis, como os estromatólitos, foi crucial para reforçar a existência de bactérias metanotróficas durante o Arqueano. [3] Os fósseis moleculares podem ser lipídicos, apontando para a existência de determinados táxons que produziam aquelas moléculas, e também podem ter outras naturezas. Fósseis moleculares não-lipídicos costumam dar evidências da existência de processos, como translocação de genes, e não de linhagens. [8]
CP: 206

O uso de fósseis moleculares é vantajoso por diversos motivos. Em primeiro lugar, uma porcentagem pequena dos organismos vivos em determinada época serão fossilizados. Isso é especialmente verdadeiro para organismos unicelulares que não possuem estruturas calcificadas[11], e ainda mais verdadeiro para protistas, pelos quais o interesse comercial e científico é limitado [12]. Além disso, a fossilização é um processo que demanda condições específicas. Isso acarreta que qualquer organismo morto fora dessas condições não seja representado no registro fóssil. [5] Outra contribuição dos fósseis moleculares é dar um melhor panorama das relações entre linhagens. Os fósseis moleculares são alternativas à interpretação morfológica do registro fóssil. Sendo assim, revelam relações entre linhagens morfologicamente distantes, as quais não teriam sido percebidas sem o auxílio das moléculas. [5] Tendo isso em mente, concluímos que os fósseis moleculares complementam o registro fóssil tradicional. Essa complementação pode fornecer dados que apenas os fósseis morfológicos não ofereceriam. Um exemplo é a ocorrência de eventos ecológicos e evolutivos. [5] A presença dos hopanoides acima citados, por exemplo, indica que a atmosfera do Arqueano já estava repleta de oxigênio. Assim, essas moléculas podem registrar, em forma de fósseis, o início da utilização de oxigênio como aceptor de elétrons para a respiração. [3]
CP: 203

Como já dito, os fósseis moleculares podem ser lipídicos ou não. Os principais fósseis de natureza lipídica são dinoesteroides e dinoesteranos. [4] Essas moléculas derivam da membrana plasmática de dinoflagelados e diatomáceas e são específicos para esses grupos. Por isso, são conhecidos como biomarcadores táxon-específicos (taxon-specific biomarkers, ou TSB). [5] Dentre os dinoesteranos, destacam-se os norcolestanos, que são específicos de dinoflagelados. Essas moléculas foram importantes para a determinação das duas maiores radiações de dinoflagelados já documentadas, que ocorreram no Jurássico e no Mioceno. [4] Além de diatomáceas e dinoflagelados, outros grupos de eucariotos também possuem TSBs. Um exemplo são as algas filamentosas. Achados de esteranos de 30 carbonos estão comumente relacionados a esse tipo de organismo. Essas moléculas também podem ser encontradas em coprólitos de zooplâncton, indicando que esse grupo predava aquele. [6] Organismos menos basais na filogenia de Eukarya também podem ser localizados através de fósseis moleculares. É o caso de Demospongiae, um grupo pertencente ao filo Porifera. Certos esqueletos de lipídios encontrados em rochas de 635 milhões de anos (no limite entre o Criogeniano e o Ediacarano) apontam para a existência desses animais nessa época. [7]
CP: 188

Por outro lado, fósseis moleculares de natureza não-lipídica comumente apontam para a existência de processos, e não de linhagens. Isso acontece com o RNA. Essa molécula é considerada por muitos um fóssil molecular que nos leva de volta à época do mundo de RNA. Segundo essa visão, o fóssil mais antigo que pode existir está relacionado à tradução de proteínas, que é um processo essencial para a existência de vida. A molécula que faz a integração de todo o processo de tradução e o possibilita é o RNA. Assim, organismos que possuem rRNA, tRNA e mRNA (eucariotos) possuem a maquinaria completa de tradução, ou seja, um registro fóssil completo do mundo de RNA. Organismos que não possuem a maquinaria completa (bactérias e Archaea) não carregam esse registro por completo. Essa visão, contudo, ainda é bastante controversa e necessita de maiores estudos. [9] Ainda em relação ao RNA, alguns autores defendem que a substituição da glicina pela glutamina no tRNA de bactérias e Archaea é um fóssil molecular. Essa substituição teria acontecido como forma de adaptação à termofilia, uma vez que a glicina não é resistente a altas temperaturas, ao contrário da glutamina. Assim, a presença do tRNA com glutamina é um biomarcador da evolução da termofilia em bactérias e Archaea. [10]
CP: 211

O uso de fósseis moleculares possibilitou diversas conquistas científicas. A ocorrência de hopanoides em rochas do Arqueano da Austrália fortaleceu a teoria de que as cianobactérias já existiriam nessa época. Nessa mesma teoria, o oxigênio produzido por essas bactérias teria formado as rochas férricas da formação Hamersley, de 2500 Ma. Assim, os TSBs podem ser utilizados para deslocar o limite temporal de ocorrência de uma linhagem. [3] Essas moléculas também permitem que se construa árvores filogenéticas de organismos extintos que não sejam totalmente baseadas na morfologia, como foi o caso das bactérias metanotróficas da formação Hamersley. [3] Reconstruções históricas puramente morfológicas podem ocultar relações entre táxons. O uso de biomarcadores fósseis pode minimizar ou até eliminar a possibilidade desse erro. [5] Outra aplicação prática dos fósseis moleculares é o enraizamento de árvores filogenéticas. Ao estudar genes permutados que codificam para tRNA, pesquisadores italianos teorizaram que essa permuta é ancestral em relação aos genes não permutados, e que a raiz de Eukarya se encontraria próxima de Viridiplantae. [8] De forma mais ampla, o estudo de fósseis moleculares, como RNA e proteínas termorredutoras, resultou em um novo panorama para o LUCA. Nesse panorama, o LUCA seria um organismo mesofílico, mais parecido com eucariotos do que com procariotos. [9]
CP: 206

Fósseis moleculares são úteis para a ciência em diversos contextos. Por serem táxon-específicos, nos informam sobre a ocorrência temporal e espacial de linhagens extintas de eucariotos. Assim, esses biomarcadores podem ser utilizados para enraizar árvores filogenéticas. Outra utilização dessas moléculas é o melhoramento da imagem que temos sobre o LUCA. Graças ao estudo de fósseis moleculares, concebemos o LUCA como um organismo com metabolismo e estrutura celulares tão complexos quanto em eucariotos. Nesse contexto, a presença dos diferentes tipos de RNA e o próprio processo de tradução de proteínas também seriam fósseis. Contudo, os biomarcadores fósseis de maior relevância para datação e determinação da ocorrência de táxons são os lipídicos. Esses esqueletos de lipídios são capazes de contar histórias sobre diversos táxons, desde dinoflagelados até esponjas. Graças a eles, sabemos que as bactérias do Arqueano já respiravam oxigênio e que os dinoflagelados sofreram duas grandes radiações relativamente recentes na história da Terra. Fósseis moleculares também são capazes de nos fornecer dados sobre a relação entre táxons. Muitas vezes, esses dados são mais acurados que aqueles presentes no registro fóssil, já que não estão obscurecidos pela morfologia. Dadas essas aplicações, a importância dos fósseis moleculares para as reconstruções históricas de eucariotos não pode ser negada.
CP: 204

CP total: 1218

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