Júlia Almeida

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Ensaio Opcional I

A vida sempre foi uma pauta de interesse para a humanidade. Se, inicialmente, isso derivava de uma interação essencialmente ecológica, nota-se que, com passar do tempo, o estabelecimento de civilizações e o subsequente desenvolvimento de debates filosóficos e religiosos não só modificou a forma como essa relação se dá, mas também influenciou fortemente as temáticas atreladas ao estudo dos seres vivos. Essa inclinação se torna evidente quando observamos a discussão histórica relacionada a tópicos da biologia evolutiva. É notável a tendência humana de afastamento ao que se considera selvagem e animalesco, guiada, dentre outras coisas, por uma visão religiosa do mundo que nos cerca. Dessa forma, nossa espécie é, muitas vezes, colocada como sendo o ápice da evolução, estando os demais seres vivos subordinados a nós. Isso se baseia - e implica - em uma ideia errônea de que há uma direção para a evolução, estabelecendo-se, assim, uma hierarquização da vida, além de pressupor que os processos evolutivos levam, necessariamente, a uma melhoria do organismo sujeito a eles. Diversas representações filogenéticas refletem essa visão antropocêntrica da natureza, como pode ser observado, por exemplo, no modelo de árvore da vida proposto por Whittaker (1969), em que há uma clara implicação de que a diversidade global de organismos resulta de um gradiente contínuo e crescente de complexidade. Nesse sentido, se estabelece uma ideia que atrela uma inferioridade a organismos basais, enquanto garante a outros um status elevado, quanto mais próximos eles forem dos seres humanos em parentesco e semelhança. Isso é inegavelmente problemático pois não só nos distancia, enquanto espécie, de outros seres vivos, dando margem a diversos crimes ambientais em uma clara mentalidade colonizadora, como traz inúmeras implicações para o compreender e o fazer da ciência. Nessa perspectiva, muita ênfase é dada à pesquisa biológica que atende diretamente a interesses humanos, sendo negligenciados diversos campos cuja aplicação é menos evidente. Além disso, também é promovida, dessa forma, uma grave desinformação do público geral, perpetuando a ideia de evolução como algo sempre observável que gera mudanças imediatas e drásticas de um fenótipo a outro, atingindo um ápice antropocêntrico permanente. É notável, portanto, que esse viés deve ser combatido de modo a não somente reparar concepções científicas equivocadas, como também a nos impulsionar a adotar novas perspectivas e ações enquanto sociedade.
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Referência:
Waldau, Paul; Patton, Kimberley C. A Communion of Subjects: Animals in Religion, Science, and Ethics. EUA: Columbia University Press, 2006.
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Ensaio 1 - 03/03/2020

A inferência bayesiana tem por objetivo a redução de incertezas. Nesse sentido, a incorporação de pressupostos referentes aos dados trabalhados torna possível a definição de um cenário mais provável. Da mesma forma, a inclusão de qualquer informação adicional pode contribuir para a eliminação de ambiguidades e a consequente redução no número de possibilidades. Essa ferramenta estatística pode ser aplicada, por exemplo, na elaboração de árvores filogenéticas. Desse modo, mesmo que o pesquisador disponha de um conjunto extenso de dados biológicos, sua análise pode ser facilitada pela redução do número de cenários a serem considerados.
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Correção de Paulo Parra:
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- Pressupostos referentes aos dados trabalhados: falta clareza. Que tipos de pressupostos?
- Cenário mais provável: exemplificar. Talvez trocar por sinônimo de 'melhor representação da realidade'.
- Redução do número de possibilidade: exemplificar.


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Ensaio 2 - 10/03/2020

Parasitas apresentam altas taxas de evolução molecular.1, 2 Este padrão é previsto pela hipótese da Rainha Vermelha, que propõe a necessidade da evolução constante de organismos em resposta a variações ambientais.3 Nesse contexto, pressões seletivas ligadas à interação parasita-hospedeiro levam à coevolução dos indivíduos associados. A necessidade de adaptação contínua por parte dos parasitas pode explicar, então, a elevada taxa de mutação apresentada por esses organismos.4, 5
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Referências:
1. L.K. M’Gonigle, J.J. Shen, S.P. Otto. Mutating away from your enemies: The evolution of mutation rate in a host–parasite system. Theoretical Population Biology, Volume 75, 301–311 (2009).
2. Pal, C., Maciá, M., Oliver, A. et al. Coevolution with viruses drives the evolution of bacterial mutation rates. Nature 450, 1079–1081 (2007).
3. Morran, Levi T., Schmidt, Olivia G. et al. Running with the Red Queen: Host-Parasite Coevolution Selects for Biparental Sex. Science (2011).
4. Lively, C., Craddock, C. & Vrijenhoek, R. Red Queen hypothesis supported by parasitism in sexual and clonal fish. Nature 344, 864–866 (1990).
5. Lively, C., Dybdahl, M. Parasite adaptation to locally common host genotypes. Nature 405, 679–681 (2000).
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Ensaio 3 - 17/03/2020

Ao longo do tempo, diversas hipóteses foram propostas para explicar a forma como a biodiversidade global se organiza. De fato, a classificação de organismos em grandes grupos ainda hoje é amplamente discutida. Essa dificuldade em se estabelecer uma árvore filogenética consensual se deve, em parte, à forma como as análises dos dados biológicos são feitas. Elas são direcionadas, nesse sentido, de modo a fortalecerem determinada hipótese. Isto é, buscam-se, de forma enviesada, evidências que corroborem a classificação proposta. Isso se torna um problema ao promover o descarte de dados potencialmente informativos, quando estes não atendem diretamente às expectativas do pesquisador. Dessa forma, a análise filogenética pode se tornar afunilada e falhar em representar um panorama mais completo e acurado de classificação biológica.
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Referência:
Katz, Laura A. Origin and Diversification of Eukaryotes. Annual Review of Microbiology, vol. 66, 411-427, 2012.
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Ensaio 4 - 06/04/2020 (aula do dia 31/03/2020)

O surgimento de organismos autotróficos promoveu modificações drásticas na composição da atmosfera terrestre. Isso se deu em decorrência da liberação de oxigênio gasoso para esse ambiente como subproduto da fotossíntese. O consequente aumento da pressão parcial de oxigênio atmosférico possibilitou, então, que um novo nicho ecológico se estabelecesse. Nesse contexto, favoreceu-se, enfim, a evolução de um metabolismo aeróbio capaz de produzir energia a partir da oxidação de compostos orgânicos.
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Referência:
Sagan, Lynn. On the Origin of Mitosing Cells. Journal of Theoretical Biology 14, 225-274, 1967.
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Ensaio 5 - 21/04/2020 (aula do dia 14/04/2020)

Muitas variáveis influenciam a qualidade do registro fóssil. Dentre elas, pode-se mencionar a heterogeneidade das taxas de sedimentação em diferentes localizações. Nesse sentido, maiores velocidades de deposição de sedimentos favorecem a preservação do organismo. Outro fator ambiental que pode ser determinante para a conservação do material biológico é a ação das águas. Isso também se relaciona à sedimentação, uma vez que ambientes aquáticos mais agitados dificultam esse processo. Além disso, características biológicas de cada espécie também podem influenciar o resultado da fossilização. Por exemplo, organismos que possuem estruturas morfológicas mineralizadas são muito mais resistentes a agentes ambientais do que aqueles que não as possuem. Isso pode fazer com que variadas espécies tenham diferentes taxas de fossilização, gerando possíveis vieses amostrais.
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Referência:
Kidwell, Susan M.; Holland, Steven M. The Quality of the Fossil Record: Implications for Evolutionary Analyses. Annual Review of Ecology and Systematics
vol. 33:561-588, 2002.
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Comentários de Eduardo Rossener:
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- Oração-título coerente com o resto do parágrafo.
- Seria interessante explorar de forma mais detalhadas a questão do ambiente aquático. Por que ambientes aquáticos agitados dificultam o processo de fossilização?
- O texto todo está muito bom! Coeso e coerente. Todas as frases estão muito bem conectadas umas com as outras, deixando a mensagem bem compreensível e linear. <3


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Ensaio Opcional II

A homologia consiste no compartilhamento de características de ancestralidade comum por duas ou mais espécies. 1, 2 Quando referente a genes, ela pode ser dividida em dois tipos. O primeiro deles é denominado ortologia. Neste caso, a divergência entre um par de genes sucede um evento de especiação. 1 Os genes ortólogos são, então, cópias de um mesmo gene. 2 O segundo tipo de homologia é referente a genes parálogos. Aqui, a divergência entre eles é decorrente de uma duplicação. Ela se dá, portanto, anteriormente à especiação. 1, 2
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Referências:
1. Altenhoff, Adrian M.; Dessimoz, Christophe. Inferring Orthology and Paralogy. Evolutionary genomics, Humana Press, Totowa, NJ, p. 259-279, 2012.
2. Ridley, Mark. Evolução. 3ª edição, Porto Alegre, Artmed, 2006.
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Comentário André Lima:
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Apesar de saber que foi a orientação do professore nas primeiras aulas, achei o uso de ponto final excessivo. As orações "O primeiro deles…" e "Neste caso…" poderiam se juntar em uma sem prejudicar o entendimento mas beneficiando a fluidez da leitura.


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Fotossíntese: aula invertida (12/05/2020)

Origem e evolução da fotossíntese: proposta de sequência didática.

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