Ensaio opcional - 02.03
A ciência destaca-se da filosofia a partir da Modernidade, com a sistematização filosófica de um método lógico próprio - o método científico. O mundo físico e objetivo pensado pela Filosofia Natural torna-se então objeto das Ciências Naturais. Uma área de estudo particular é especificada quando o objeto de estudo é capaz de ser delimitado e diferenciado de qualquer outra ciência já estabelecida. Uma ciência deve apresentar perguntas, metodologias e hipóteses mecanísticas próprias e consensuais na academia científica, além de manter-se fiel àqueles princípios lógicos do método científico. Ciência e Filosofia, e diria inclusive qualquer atividade cultural humana, são historicamente determinadas no sentido que os rumos do conhecimento futuro devem se levantar sobre conceitos e ideologias passadas, seja para revalidação ou reconceituação das mesmas. Não importa o quão objetivo ou concreto seja objeto de estudo, o conhecimento natural uma vez passado pelo véu do conhecer humano é representação (modelo) e, portanto, sem realidade concreta em si.
Comentários de João Oliveira
Sugiro o uso de uma linguagem mais direta, uma vez que a escrita científica deve ser sintética e objetiva. Também deve ser dada atenção a períodos longos, uma vez que sua escrita mais complexa pode ser um pouco cansativa em frases longas. Tive um pouco de dificuldade em entender a relação entre as ideias apresentadas (e relacionadas) nos dois últimos períodos. A escolha do tema (método científico) poderia ser mais simples, uma temática que fosse mais facilmente coberta em um parágrafo.
Re-escrita
Ciência e Filosofia são tradições culturais humanas e, portanto, são historicamente determinadas. A ciência destaca-se da filosofia a partir da Modernidade, com a sistematização filosófica de um método lógico próprio - o método científico. O mundo físico e objetivo pensado pela Filosofia Natural torna-se então objeto das Ciências Naturais. Uma ciência sensu lato deve apresentar perguntas, metodologias e hipóteses mecanísticas próprias, consensuais na academia científica. Já uma ciência particular se desenvolve a partir da delimitação de um objeto de estudo diferenciável do de qualquer outra ciência já estabelecida. Mesmo assim, acima de tudo, é importante que haja a possibilidade de troca de conhecimentos baseados em algum tipo de princípio básico consensual entre os cientistas de cada área. Dentro desse contexto, os rumos do conhecimento e práticas futuras só se tornam possíveis se levantados sobre conceitos e ideologias passadas, seja para sua revalidação ou reconceituação.
Ensaio 01 - 09.03
A sistemática filogenética tem por princípio delimitar métodos de classificação biológica objetivos e reproduzíveis. Existem inúmeras possibilidades topológicas de se combinar terminais, ou seja, os grupos que o pesquisador pretende organizar. A quantidade de hipóteses possíveis aumenta fatorialmente, e logo a tarefa de organização torna-se operacionalmente impossível. Por isso, critérios de otimização são essenciais para se chegar a uma hipótese de classificação. As classificações pré-cladísticas encerravam um componente subjetivo muito forte pela ausência de critérios consensuais, prevalecendo a idiossincrasia a priori do sistemata (o que cada um achava mais importante considerar). Os métodos mais recentes, como as abordagens Bayesianas, utilizam-se de uma gama de critérios - parâmetros, a fim de selecionar as hipóteses mais plausíveis dado um modelo de evolução.
Comentários de Maiumy Honda:
A construção das frases está correta em geral. As penúltima frase poderia ser reestruturada, para torná-la mais clara. A frase título não sintetiza o texto, e talvez começar explicitando as dificuldades encontradas na área (como a subjetividade envolvida), e não seus objetivos/princípios, seja mais adequado.
Re-escrita
A sistemática filogenética tem por princípio organizar grupos taxonômicos segundo critérios específicos (o mais objetivos possíveis). Existem inúmeras hipóteses topológicas capazes de combinar terminais, ou seja, os grupos que o pesquisador pretende organizar. A quantidade de hipóteses possíveis aumenta fatorialmente, e logo a tarefa de organização torna-se operacionalmente impossível. Por isso, critérios de otimização são essenciais para se chegar a uma hipótese de classificação. Tais critérios são assumidos a priori, a fim de selecionar as hipóteses mais plausíveis, dado um modelo de evolução. Logo, a escolha de uma hipótese de classificação está intrinsecamente em função dos critérios assumidos.
Literatura recomendada:
[1] http://pergunte.evolucionismo.org/post/48679559603
Ensaio 02 - 16.03
Compreender relações profundas de parentesco entre grandes grupos na árvore da vida depara-se com enormes desafios metodológicos. As principais e mais clássicas análises filogenéticas embasam-se principalmente em caracteres morfológicos para chegar a hipóteses de relações de parentesco entre grupos de organismos. Contudo, determinar homologia morfológica em tendências macro-evolutivas no nível de filos e super-filos é praticamente impossível. O primeiro impedimento se apresenta na falta de congruência morfológica de bauplan dentro de um mesmo grupo, e.g. Metazoa. Mais adiante, alta taxa de evolvabilidade (mudança) e também eventos de extinção complicam ainda mais a análise evolutiva profunda, por serem a causa da ausência de evidências. O advento e menor custeamento sucessivo de análises moleculares apresenta-se como um horizonte promissor para acessar com maior rigor a história macro-evolutiva. Isso se deve principalmente à generalidade e alta conservabilidade do código genético, reduzível a apenas 4 nucleotídeos possíveis para cada sítio na sequência genética.
Comentário de Arthur Augusto
O texto está bem direcionado ao tema abordado em aula, porém mais ao fim do texto, são adicionadas informações que não concluídas de modo a clarificar concisamente a proposta do parágrafo. As frases poderiam ser ligeiramente mais curtas para garantir a atenção do leitor.
Ensaio 03 - 23.03
O fenômeno "chupacabra" descreve uma tendência da academia científica em procurar suporte empírico a hipóteses intuitivamente atrativas ou inovadoras. O apelido proposto por Laura Katz tem por princípio uma metáfora no mínimo irônica. A autora propõe este termo em descrição a um enviesamento praticamente mítico na argumentação científica. No imaginário supersticioso, os registros de seres míticos podem parecer escassos no início, mas chegam a crescer tanto no senso comum até serem fatos indiscutíveis. O fenômeno "chupacabra", contudo, é uma falácia em argumentação indutiva. Embora, hipóteses/conclusões desenvolvidas sobre premissas fracas ou facilmente falseáveis sejam logicamente válidas, o argumento não é correto se qualquer nova evidência possível contrariar a conclusão por indução. Contudo, sob a abordagem "chupacabra", evidências contrastantes com a hipótese são desconsideradas, simplesmente, por um viés em ressaltar apenas as evidências que trazem suporte. Desta forma, hipóteses científicas podem ganhar força apesar de não terem embasamento empírico suficientemente sólido.
Comentário por William Ribeiro
O texto foi muito eficiente no sentido de resumir um conceito tão complexo. A introdução e conclusão estão muito boas. Alguns períodos estão muito longos e apresentam uma série de conceitos complexos. Esses períodos deveriam ser divididos e os conceitos abordados em mais frases. Alguns períodos apresentam ordens indiretas. Seria legal buscar uma maneira mais objetiva de escrever.
Ensaio 04 e 05 - 20.04 e 27.04
Como já viemos discutindo semanas anteriores, interpretar a história profunda da terra e dos organismos que nela habitam esbarra-se em grandes barreiras históricas e metodológicas das ciências naturais. A esmagadora maioria de trabalhos científicos, históricos e contemporâneos, debruça-se sobre material biológico macroscópico e multicelular como seu objeto. Isso inclui não somente as ciências cujo objeto biológico é vivo, mas também os extintos. Se, por um lado, o estudo de formas microscópicas vivas (extant taxa) só se tornou possível após desenvolvimento do microscópio, e dos consequentes avanços tecnológicos posteriores. Acarretando, dentro desse contexto, uma limitação inerente ao conhecimento acerca da diversidade destas formas de vida. Por outro lado, o estudo das formas extintas é ainda mais obscuro. Micro-organismos só fossilizam em condições bem específicas. O registro fóssil de micro-organismos é portanto extremamente raro. Complica-se mais ainda quando assumimos que a origem da vida foi microscópica, num tempo extremamente remoto da história do planeta. Não podemos, portanto, negar quão intuitivo é interpretar a origem da vida só e somente só sob a perspectiva macroscópica, restrita a evidências que remontam a períodos muito recentes.
O Fanerozoico se distingue na escala de tempo geológica como o Eon no qual formas de vida macroscópicas surgem, se diversificam e dominam a paisagem geográfica; daí o nome Fanerozoico (vida visível). O principal marco geológico que permite reconhecer os primórdios desse Eon é reconhecido na paleontologia como Explosão Cambriana. O Cambriano é o primeiro período da primeira era, o Paleozoico, no início do Fanerozoico. A Explosão Cambriana é um evento temporal de aumento na riqueza de espécies no registro fóssil. Esse aumento da riqueza de material conservado remete à diversificação e origem de formas de vida mais facilmente preserváveis. Mas também remete às condições planetárias mais amenas do Fanerozoico, que permitem o microambiente necessário à fossilização. Eons como o Hadeano, por exemplo, num tempo muito mais remoto da história da Terra, é caracterizado por intensa atividade geológica, e tem por consequência péssimo registro fóssil. As estimativas mais recentes sobre a origem profunda da vida na Terra remete aos últimos milênios deste Eon tão remoto (4,2 bAa - [bilhões de anos atrás]), logo após a formação dos oceanos há 4,4 bAa. Essa estimativa, contudo, é uma extrapolação sem evidência concreta, visto que a mais antiga forma de vida preservadas geologicamente remete a 3,464 bAa. O argumento é que se há 3,4 bAa já havia formas microscópicas bem estabelecidas, a origem da vida é provavelmente muito mais antiga. Apesar destas complicações, é necessário admitir que compreender a posição dos micro-organismos no estudo da paleontologia e da reconstrução histórica profunda é um desafio excepcionalmente recente e interessante. Abaixo incluo alguns dos dados e inferências que o estudo paleomicrobiológico tornou possível.

Fig.1 - Inferências de eventos geológicos ou biológicos em escala temporal profunda, Eons. Fonte: wikipedia.
Literatura recomendada:
[1] https://www.britannica.com/media/full/229486/66800
Comentário por Rúbia Vanderlinde (ensaio 27.04)
O texto está muito bem escrito. A organização das sentenças deixa as ideias fluidas e cria uma linha de raciocínio bacana. Porém, quando você fala de "condições planetárias mais amenas" fica um pouco confuso ao que você se refere. Isso porque logo depois você fala de atividade geológica, mas não sei se era esse o ponto de "ameno" ou em relação às condições atmosféricas.
Gostei muito que colocou referência e figura. Principalmente porque eu sou uma toupeira em relação à paleontologia e não lembro das divisões da linha de tempo.
Muito bom!
Ensaio 07 - 11.05
Ao interpretar uma filogenia, é frequente assumir as linhagens basais de um grupo como representantes ou resquícios do bauplan e fenótipo do ancestral comum. Em diversos grupos multicelulares, realmente é possível reconhecer um padrão de retenção de caracteres ancestrais nas linhagens mais antigas, i.e. as primeiras linhagens a se divergirem na história do grupo. Muitos desses macro-grupos apresentam forte tendência à evolução planos corpóreos mais complexos e ao acúmulo sucessivo de inovações evolutivas. Podemos destacar, como exemplo, as plantas terrestres e os vertebrados terrestres. Em que, por um lado, as mais antigas linhagens destes grupos retiveram muitas características das linhagens ancestrais cujo nicho era restrito à água, e ainda hoje são dependentes de condições de umidade muito limitadas. Enquanto, por outro lado, existe uma clara tendência a complexificação, com diferentes graus de especialização, nas linhagens mais derivadas. É importante ressaltar que o evento de colonização do ambiente terrestre está associado a múltiplas novidades evolutivas. Além de não ser uma única característica, em alguns casos, tais novidades evolutivas são sequenciais e acumulativas. O surgimento das características que marcam o evento de colonização terrestre possibilitaram uma rápida diversificação frente à multiplicidade de nichos potenciais presentes em terra. Mas ao considerarmos todas as outras linhagens que não compartilham deste padrão observado em plantas e animais, torna-se extremamente complexo e passível de erros a interpretação de planos corpóreos/fenótipos em cenários evolutivos ancestrais. Considerar as relações profundas de parentesco entre grupos de organismos muito antigos, e interpretar as características de plano corpóreo de clados recentes simplificados como modelos vivos do ancestral nos incumbe num erro estratosférico. Imaginemos, por exemplo, as primeiras linhagens a se diversificarem em Eukarya, os Excavata. Não é possível em nenhum momento afirmar que qualquer organismo integrante de Excavata represente a forma e nicho do ancestral comum a todos os eucariontes. Mesmo que Excavata seja basal à Eukarya, passou-se tanto tempo desde a sua diversificação do resto dos eucariontes, que a história evolutiva deste clado e a própria história do planeta em nenhum momento deve ser assumida como restrita às mesmas condições que o ancestral estava sujeito. Isso porque é impossível inferir qual seria a tendência macro-evolutiva comum a todos os eucariontes que seja análoga à tendência macro-evolutiva de linhagens multicelulares que colonizaram o ambiente terrestre. Novamente, o viés macroscópico pode nos levar a conclusões precipitadas quando, por exemplo, somos inclinados a assumir que linhagens basais sempre hão de reter plesiomorfias.
Aula 18.05
A fotossíntese é uma série de processos físico-químicos no qual a energia solar é absorvida, convertida em energia química potencial; à disposição de processos bioquímicos celulares vitais.
Sub-sistemas da fotossíntese:
Pigmentos fotossintéticos,
Sistema heme,
Magnésio,
Sistema-anel,
Pigmentos acessórios: carotenoides;
Centros de reação,
"Anoxygenic phototrophs have just one type, either type I or II, while all oxygenic phototrophs have one of each type"
"both type I and II RCs came to be in cyanobacteria, while all other photosynthetic prokaryotes have only a single RC"
Sistema-antena,
"presence of an antenna is universal, the structure of the antenna complexes and even the types of pigments used in them is remarkably varied in different types of photosynthetic organisms. This very strongly suggests that the antenna complexes have been invented multiple times during the course of evolution"
Via de transporte de elétrons,
"All phototrophic organisms have a cytochrome bc1 or b6f complex of generally similar architecture, with the exception of the FAP phylum of anoxygenic phototrophs"
Vias de fixação de carbono.
"The carbon fixation machinery is thus similar to the antennas, in that several entirely separate solutions have been adopted by different classes of phototrophic organisms. This would be consistent with the idea that the earliest phototrophs were photoheterotrophic, using light to assimilate organic carbon, instead of being photoautotrophic."
Calvin-Benson é geral apenas em fotossíntese oxigênica.
Of the five well-established phototrophic bacterial phyla, only the Cyanobacteria are capable of performing oxygenic photosynthesis.
Referência:
Blankenship, R. E. (2010). Early Evolution of Photosynthesis. Plant Physiology, 154(2), 434–438. http://doi.org/10.1104/pp.110.161687
Ensaio 09 - 25.05
A investigação de tendências históricas encerra um componente imanente como princípio fundamental. O conceito de imanência na filosofia remete tanto à essência pura, em termos idealistas, quanto à realidade em sua forma mais concreta, em termos materialistas. No site Razão Inadequada, a imanência é posta nos seguintes termos: "A realidade é o que é, determinada por ela mesma e pelas forças que a atravessam […] O oposto à imanência é a transcendência […] Deus criou o mundo em sete dias é um bom exemplo de transcendência."¹ A interpretação macro-evolutiva busca traçar uma tendência imanente às linhagens com que se preocupa em analisar. Imanente porque depende particularmente de cada linhagem. Transcender essa interpretação implicaria assumir uma causa externa ativa às mudanças evolutivas. Sublinho na construção textual do Razão Inadequada uma perspectiva oposta à essencialista por acentuar o caráter potencialmente mutável às causas da imanência. Querendo ou não, assim é a evolução, ela depende sim das características intrínsecas a cada linhagem, mas também das forças que a atravessam. Uma evolução transcendental teria por fundamento apenas o objetivo que a força motriz ativa intenciona, seria finalista e independente do estado atual e histórico das linhagens.
Referência
[1] https://razaoinadequada.com/about/tratado-de-imanencia/imanencia/